sexta-feira, agosto 04, 2006

Goulash de Novilho

(...continuação)
Por volta das quatro fomos à praia, onde ficamos quase até ao pôr-do-sol a ver a maré baixar, deixando a descoberto aquelas milhares de pedrinhas e conchas que transformam a praia num festim de cor e brilho.
Quando chegamos a casa fomos preparar o jantar, Goulash de Novilho por sugestão da Luísa. “Fomos” é neste caso uma força de expressão, os homens limitaram-se a estorvar as mulheres, fazendo de conta que são prestáveis, fazemos isto só para nos dar uma sensação de vida em comunidade. Vou aproveitar este momento para me meter com a Raquel, tenho a certeza que se a fizer rir pelo menos uma vez, evito ter que lidar com a terrível frieza de uma mulher. Enquanto empreendo esta esgotante tarefa, o Pedro vai limpando as lágrimas do Jaime, que está de avental a descascar as cebolas, o Andreas e o Boris rebolam-se pelo chão da cozinha, e o Vasco anda a perguntar se as trufas não dariam bons alucinogénios, depois de já ter sugerido que este prato ficaria melhor se preparado com um bocado de vinho branco. Tenho a impressão que por ele todas as receitas deveriam levar vinho na sua constituição. Entretanto, a Raquel mandou-me um daqueles olhares esta-noite-não–há-sexo, é óbvio que não estou a ser bem sucedido.
Como era de prever as mulheres é que fazem o que realmente importa, a Joana corta a carne em cubos, a Luísa está agora a ajudar o Jaime com as cebolas, cortando-as em rodelas muito finas para depois as levar a alourar num tacho com margarina, a Rita fez o molho para a salada, que, pelo que consegui reparar, consiste em misturar três colheres de óleo da Provença, uma de vinagre de cidra e umas gotas de limão, às quais a Raquel irá juntar as “trufas psicadélicas” que o Vasco tinha cortado em bocados pequeninos, temperando tudo com sal e pimenta. Finalmente ela ri-se, não muito, mas o suficiente para me deixar de consciência aliviada. Sentamo-nos à mesa ao som de um antigo tema de Lionel Richie.

(continua...)